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Os desafios da economia e as filosofias do cotidiano

Iniciada nos anos cinquenta, vimos solidificar-se na vida brasileira o chavão do “rouba mas faz”. Nos anos da ditadura apareceu outro “quero tirar vantagem em tudo". Eu diria que neste período já longo de maldades advindas de 64, o “me engana que eu gosto” passou a caracterizar a geração atual, que pensa estar vivendo um clima de liberdade, criatividade intensa. Mais do que tudo, sente-se ocupando o lugar dos mais poderosos, esperando que o Brasil passe a ocupar finalmente um lugar entre as economias maiores e mais eficientes do mundo, através dos pleitos democráticos e do crescimento do patriotismo, visto que dedicamos e emprestamos todo nosso potencial inteligente e criativo ao crescimento do País.

Mas não é bem assim que a banda toca. Acima dos rapapés diplomáticos e enganações interesseiras de grande parte da mídia, não exercitamos objetivamente nossa capacidade analítica, já que além de termos nos acostumado a ouvir e ler somente nossos comentaristas preferidos, a eles relegando o pretenso exercício da comparação e da busca inteligente de informações, nunca exercitamos, os padrões internacionais de comparação que abarcam diferentes setores da vida humana. O conhecido Pisa Test, padrão internacional de medição de leitura e matemática, coloca o Brasil entre os "piores do mundo, inclusive dentre os países em desenvolvimento, dos quais nos julgamos diferentes” . Em razão direta desta incompetência institucional, o país cresceu em produtividade, apenas 1.5% ao ano na última década, enquanto a China ultrapassou os 4% . Desnecessário dizer que vagas de emprego não são preenchidas com facilidade nos segmentos de elevado crescimento, como o petrolífero e de construção especializada. Mas não se iludam, a qualidade dos profissionais é baixa em todos os niveis. Os mais afortunados, que chegaram às escolas superiores também ficam na rabeira das comparações com seus pares em outras partes do mundo, certamente com os do mundo industrializado, cujo alto padrão de vida tanto almejam.


O Financial Times, jornal inglês diário de grande influência, publicou no dia 10 de julho passado um trabalho sobre atualidade brasileira, escrito por Joe Leahy, intitulado “After the carnival”/Depois do carnaval “, em que discorre sobre a vida contemporânea brasileira, seus gargalos econômicos e que nos dá uma antevisão do que vem por ai. Destacamos, em razão da festa da exportação de commodities nos últimos dez anos, em especial soja e minério de ferro, o Brasil pouca importância deu a sua infra-estrutura e educação; sua indústria, em consequência do acima, perdeu sua competitividade; a capacidade de inovação é extremamente pobre e reduzida. Aliás, neste ponto, não sabemos se por gozação ou imbuído por um puro sentimento de reconhecimento, o único exemplo que deu sobre a capacidade brasileira de inovação foi o aparente golpe de marketing do Corinthians que, ao contratar o jogador chinês Chen Zhizhao, conta penetrar o mercado chinês com a marca do time, ambicionando, no mínimo, ser o maior clube de futebol do mundo em termos de torcedores. Mas a observação do jornalista não deixa de trazer também uma fisgada no orgulho dos brasileiros, pois ao mesmo tempo que destaca palavras gentis do jogador chinês relativos ao clima no Brasil, sua comida e acolhida, no final da reportagem rebate dizendo que na China não tem tanta gente interessada em futebol, já que a juventude tem que estudar muito. Pergunto: é esta a grande diferença ?A economia do país parece ter perdido sua direção. No modelo Lula de desenvolvimento, entre 2003 e 2010, a classe média expandiu-se no Brasil, incentivada por transferências de riquezas calcadas na assistência social, aumentos salariais, e no crédito ao consumidor. Os desafios futuros são: reverter um índice de desenvolvimento esperado ao redor de 2% este ano; o mesmo em relação ao nível de qualidade de sua infra-estrutura (estradas, portos, irrigação, etc...) de forma que possa enfrentar Índia e China, seus naturais competidores; consequências da implantação de um sistema de administração controlado e liderado pelo Estado, uma vez que seus modelos ocidentais de governo, EUA e Europa vivenciam seus próprios problemas e falências institucionais, e não mais servem como paradigmas.


Este último ponto, aliás, muito se aproxima das reações esperadas em países como a China, Rússia e Índia, tentados que estão, face às dificuldades correntes e potenciais, a retornarem a seus hábitos e práticas socialistas, visando a preservação de empregos e a proteção de mercados.


E, como perante tudo isto se colocam os empresários de pequeno e médio porte, profissionais liberais e tantos outros que arduamente labutaram e acumularam riquezas pessoais? Sabemos que em quadros de maior influência estatizadora, os impostos aumentam ainda mais e o manuseio do câmbio se restringe, por ser importante ferramenta de controle econômico. Há muito se fala no Brasil sobre a implantação do imposto de grandes fortunas, uma de suas versões tramitando em estágio avançado no Congresso. Trata-se de um fantasma real que deve ser observado e evitado por quem se achar prejudicado por sua implantação.


Sem sombra de dúvidas a arrecadação terá que passar por ajustes importantes para enfrentar um desequilíbrio econômico profundo e maior do que antes enfrentado. Os fantasmas do desemprego e da intranquilidade fiscal, primos irmãos, terão que encontrar alívio no bolso de todos e nos caixas das empresas.


Aquele sonho, para os que tinham recursos não declarados no exterior, de terem aprovada uma legislação especial que os perdoasse, e/ou criasse uma conjuntura especialíssima para retornar seus recursos para o Brasil, parece hoje irreal. É mais lúcido e recomendável enfrentar a realidade e acreditar em mais dificuldades à frente.


O planejamento da administração de riquezas, abrangendo sucessão e proteção de ativos, é cada vez mais urgente para todos aqueles que contemplem uma vida segura e estável. A tendência, infelizmente, é de termos no Brasil maiores taxações. Planejamento de sucessão fiscal e preservação de patrimônio estão na ordem do dia. Dentro da lei, muitas soluções inteligentes e inovadoras passam pelo uso de estruturas legais localizadas no estrangeiro, assim proporcionando maior tranquilidade às famílias beneficiadas. Quem somente acredita em Papai Noel poderá ter grandes dissabores num futuro não muito longínquo, já que os castelos de areia costumam diluir-se muito rapidamente.

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